- Era já minha tenção falar-lhe nele. Deixemos porém agora esta matéria, que outro grave motivo me trouxe aqui e tenho pressa de me desempenhar da missão.
- Olá! Motivo grave! Pelo modo de dizer parece que se trata de coisas de polpa.
- Não é de pequena gravidade, não - insistiu Jorge -, e se quer que fale a verdade, Tomé, não me é agradável a incumbência.
- Vá lá. Estou daqui a adivinhar o que é. Temos algum recado do pai. O Sr. D. Luís sabe inventá-las de bom feitio. Às vezes tem lembranças! Mas eu já estou prevenido para tudo, venha mais essa. Diga lá.
- Não, Tomé, não se trata de meu pai. E não canse mais a cabeça, que por certo não adivinha, e eu, em duas palavras, ponho-o ao corrente de tudo. O Clemente, o filho da Ana do Vedor, procurou-me há poucas horas para me pedir que me encarregasse de ser o seu mediador em uma pretensão que ele tem dependente de Tomé.
- De mim?! Deve ser bem esquisita para que o rapaz não venha em pessoa falar-me. Então não somos nós amigos?
- Há delicadeza da parte dele nisto, porque a pretensão de que se trata é de certo melindre. Em uma palavra, estou encarregado de pedir para Clemente a mão de Berta.
Jorge não pronunciou estas palavras com a mesma forçada placidez com que até ali sustentara o diálogo. Parecia que os lábios as repeliam, como se os escaldassem ao passar.
Tomé recebeu sem estranheza a comunicação. Mostrou bem que a ideia dessa aliança não era nova para ele, e que não carecia de tempo para a examinar, porque todas as faces dela lhe eram já conhecidas.
- Ah! pois era isso? - disse ele naturalmente.- Escusava de tantas cerimónias o rapaz, porque já deve saber por a mãe o que eu penso do caso. Pela minha parte não ponho dúvida alguma. O Clemente é um rapaz de bons sentimentos, honrado como poucos, trabalhador, e tendo já de seu alguns haveres, que não são maus princípios de vida.