Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 33: XXXIII Pág. 450 / 519

XXXIII

A meio caminho da Herdade, a Ana do Vedor, ao abrir uma cancela, para tomar por o atalho de um campo, deu de rosto inesperadamente com a pessoa que tanto lhe estava ocupando o pensamento.

Jorge vinha em direcção oposta e preparava-se também para transpor o portelo.

Em um relance de olhos, a boa mulher verificou, na mudança de aspecto em Jorge, a exactidão das informações que lhe dera o filho, e com isso cresceram ainda mais as apreensões, obrigando-a a exclamar consternada:

- Ó Virgem Mãe dos homens! que maus olhares te deitaram, meu filho, que parece mesmo que saíste agora do cemitério? Bem mo tinham dito, mas tanto não esperava eu ver!

- Então o que lhe tinham dito, ama? Que me haviam desenterrado?

- O que me tinham dito? Queres sabê-lo? Pois olha que eu não ponho nenhuma dúvida em to dizer. Tinham me dito que tu não eras o rapaz de juízo que eu supunha, que afinal eras tão bom como os outros, e que por doidices de rapaz andavas mais morto que vivo, amarelo e chupado, como quem tem já um pé na cova.

- E parece-lhe então que a informaram bem?

- De menos que não de mais. Que cara é essa com que tu me apareces? Tu queres ir atrás de tua irmã? Olha se queres. A coisa é fácil se continuares nesse andar.

- E então que lhe hei-de eu fazer, ama? Uma pessoa não tem na sua mão o engordar e emagrecer.

- É teres juízo, é não pensares em tolices; ou então, quando já não há remédio, é andares para diante com a cara e não sofreres até rebentares.

- Agora é que não a entendo, ama.

- Entendes, entendes; mas, se queres que eu fale mais claro, sempre te perguntarei se era coisa que se fizesse dar por noiva ao meu Clemente, que se criou aos mesmos peitos que tu, a menina que o senhor fidalguinho da





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