Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 5: V Pág. 57 / 519

- Mas que intentas fazer então? Qual é o teu plano?

- Fazer-me respeitado; mostrar que não sou inferior a eles.

- Sim, mas de que maneira?

- Resgatando a nossa casa, calando com a paga a boca desses credores insolentes, e colocando-nos, pela prosperidade das nossas terras, ao lado deles todos, e acima pela nobreza de sentimentos.

- Queres então fazer-te lavrador?

- Quero trabalhar. Olha Maurício, tenho pensado muito estes últimos dias, e hoje mais do que nos outros.

A nossa regeneração depende de nos despirmos dos preconceitos sem fundamento com que nos educaram. A nossa perda é uma inevitável e justa consequência do nosso louco modo de pensar e de viver, do nosso falso orgulho e dos nossos hábitos viciosos. Pois que quer dizer este enfatuamento com que falamos dos nossos avós? Qual foi a acção nobre, magnânima, que deu tal esplendor a nossa família, que se não possa apagar esse esplendor com a vida de ociosidade, de desleixo e de dissipação inglória que levamos? A crónica não é clara a esse respeito. Tivemos guerreiros que morreram pela pátria, é nobreza, decerto; mas quantos soldados obscuros não existiram entre os ascendentes desses pobres homens que por aí há, tão heróis como os nossos, mas ignorados? Tivemos um ou dois bispos; eles, algum pobre sacerdote, modesto e humilde, que fez porventura mais serviços à religião do que o nosso parente mitrado; mas não lhes deu isso nobreza. O que lhes faltou talvez foi um avoengo que prestasse serviços particulares a algum rei benevolente, que em compensação o fez nobre por toda a eternidade; porque também há destas raízes em muitas árvores genealógicas; desengana-te.

- Estás eivado de uma filosofia democrática e revolucionária que não sei onde te levará, Jorge. E em vista disso que resolves?

- Resolvo não continuar a merecer essas humilhações, que não posso deixar de reconhecer que são justas.





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