Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 6: VI Pág. 70 / 519

- Tens a minha plena confiança, Jorge. E a não me quereres para teu guarda-livros...

- Lembrou-me que Maurício devia partir para Lisboa. Lá poderá ser mais útil a si e à nossa casa. É verdade que não é essa por ora uma medida económica; antes obrigará a alguns sacrifícios. Far-se-ão, porém, se precisos forem, e Maurício tem brios bastantes para não os deixar ficar improdutivos.

D. Luís fez um gesto de dúvida.

- Hum! - objectou ele - que carreira pode nestes tempos seguir na capital um filho meu? Queres acaso que ele vá renegar a causa que a nossa família sempre abraçou e fazer pacto com essa gente que hoje governa?

- Confesso que mal pensei ainda na carreira que lhe convirá seguir; mas somente lá é que é possível a escolha. Parece-me que sem desonra se poderá trabalhar e ser útil à Pátria que é sempre a mesma, qualquer que seja o partido que a governe. Mas o caso não urge. V. Ex.ª poderia escrever nesse sentido a nossa prima Gabriela, que melhor que ninguém poderá fornecer-nos valiosas indicações.

- Gabriela?! A senhora baronesa do Souto-Real! - acentuou sarcasticamente o fidalgo. - Ora adeus! Uma doida...

- Tem-se mostrado sempre nossa amiga - corrigiu Jorge - e ainda por ocasião do falecimento de Beatriz...

- Sim, bom coração tem ela. Mas a sociedade em que vive desde que casou e depois que viuvou tem-lhe feito adquirir as qualidades da época. Não se lembra de que seu pai foi um militar que morreu com as armas na mão a favor da causa legitimista. Hoje conta os seus amigos entre a gente que a fez órfã.

- Deve perdoar-se a uma mulher essa fraqueza. Ela não tem coração para ódios. Bem o sabe. Parece-me, contudo, que, apesar das suas aparências frívolas, tem um fundo de bom senso donde pode sair um aproveitável conselho.





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