Esta era a parte secreta do seu plano; aquela cuja menção bastaria para desvanecer toda a boa impressão produzida no ânimo de D. Luís.
O capital inicial devia vir do empréstimo razoável oferecido por Tomé da Póvoa, ou obtido sob a garantia do crédito dele. Esta operação era indispensável, era a única talvez salvadora; porquanto os outros capitalistas tinham sempre em vista apoderar-se dos bens do fidalgo, e por isso somente emprestavam sob condições onerosíssimas e perigosas.
Mas o orgulho de D. Luís não lhe deixaria aceitar favores de Tomé; nunca ele consentiria na menor transacção com o que fora seu criado.
Por isso Jorge guardou para si somente esta parte das suas projectadas operações, e com D. Luís felizmente era fácil passar por alto certos pontos de questões desta natureza, que ele mal examinava. Assim, pois, o pai acabou por dar o consentimento pedido.
- Seja; não me oponho a que te ocupes da gerência da casa, que dentro em pouco tempo será vossa. Vejo que tens reflectido nisso mais do que eu julgava; contudo marco duas condições: a primeira é que nunca faças contratos que sejam vergonhosos para o nome da nossa família.
- Prometo-lhe que não o envergonharei.
- A segunda é que não desprezes os conselhos de frei Januário.
- Por certo que não prescindirei das suas informações.
- Eu lhe darei parte do que resolvi. E agora... - acrescentou D. Luís - vamos ao resto... e Maurício?
Maurício, interpelado pela segunda vez, achar-se-ia nas mesmas dificuldades para responder à interpelação se Jorge não respondesse por ele:
- Também pensei em Maurício.
- Ah! também? - disse o pai, não podendo ocultar a quase admiração que lhe estava impondo Jorge.
Maurício interrogou também com a vista o irmão.
- Se Maurício confia em mim, é inútil a sua permanência aqui na aldeia onde não tem em que se ocupe.