Ilíada - Cap. 30: Capítulo 30 Pág. 149 / 178

Todos os troianos se tinham refugiado já detrás das muralhas e procuravam saciar a sede que lhes queimava a garganta. Todos menos um, Heitor, que se deixara ficar do lado de fora, disposto a esperar por Aquiles e a bater-se com ele.

O velho Príamo, que presenciara o desenrolar do combate e a fuga dos troianos diante do filho de Peleu, procurava dissuadir Heitor daquela resolução funesta:

— Ó meu Heitor, não esperes sozinho por este homem, assim sem auxilio de ninguém. Ele é mais forte e não te poupará a vida! Se os deuses o odiassem tanto quanto eu, por certo já estaria a servir de repasto aos cães e abutres. Muitos filhos meus pereceram às suas mãos mas se ele te matasse, Heitor, não somente eu e a tua mãe, mas também todos os homens e mulheres de Tróia ficariam inconsoláveis! Vem para dentro da cidade, meu querido filho! Tu és a única esperança de salvação que nos resta. Vem, antes que sobre a minha velhice caia a desgraça de ver todos os meus filhos trespassados pela espada de Aquiles, minhas filhas arrastadas para o cativeiro e meus netinhos atirados ao c hão durante a luta. A mim também não faltará quem me tire a vida e me ultraje o cadáver, pois o inimigo não respeita os cabelos brancos da honrada senectude.

Príamo falava e chorava, mas nada demoveu Heitor do seu propósito. Por outro lado, Hécuba, mãe de Heitor, fazia tentativas inúteis para convencei o filho:

— Heitor, meu querido filho, se tens algum amor a tua mãe, volta para a cidade! Tens razão em querer repetir o inimigo mas não te exponhas dessa
maneira. Se Aquiles te mata, nem ao menos poderemos prestar-te as honras da fogueira, nem poderemos chorar em volta do teu leito. Lembra-te do sofrimento da tua esposa e do teu filhinho, que ficará órfão.





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