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Capítulo 1: I

Página 12
passava a vida aproveitando os mais ridículos ensejos para premissas dos seus corolários antiliberais, artifício com que lisonjeava as paixões do seu ilustre amo e patrono, e mantinha nele o fogo sagrado.

O padre achava-se bem naquela vida monótona, que exercia sobre si os mais notáveis efeitos analépticos. Podia dizer-se que ele dividia ali o tempo entre duas ocupações exclusivas: comer e esperar com impaciência as horas da comida.

Uma única circunstância assombrava os dias do padre. Era a presença na Casa Mourisca do hortelão em quem falámos, e que mantinha com ele uma aberta hostilidade. Frei Januário exasperava-se sempre que o ouvia falar no Imperador e no cerco e nos voluntários da Rainha e na Carta, com o entusiasmo e a ênfase de um soldado daqueles tempos. Por vezes, rompiam ambos em cenas violentas; por vezes, o capelão ia aconselhar ao fidalgo a demissão daquele homem, que ameaçava infectar de liberalismo a família inteira.

D. Luís, porém, apesar de nunca falar com o hortelão, não atendia nestas reclamações o padre. Conservando no seu serviço o veterano, satisfazia a um pedido da esposa, e não teria coragem para fazer o contrário. Assim perpetuavam-se os conflitos entre os dois, porque nem o procurador suportava as rudes franquezas do soldado, nem este os remoques encapotados do procurador.

Tal era a situação da família da Casa Mourisca na época em que vai procurá-la a nossa narração.

Já se vê quão mal assegurado andava o futuro dos dois jovens filhos de D. Luís. A educação que eles haviam recebido não tendera a fim algum prático.

D. Luís não podia sofrer a ideia de dar a seus filhos uma profissão. A nobre carreira das armas, que mais lhes conviria, estava-lhes fechada pelas últimas evoluções políticas. Os descendentes dos ultramonárquicos Negrões de Vilar de Corvos não eram para se assalariarem em defesa dos princípios e das instituições que abalaram os velhos tronos, firmados no direito divino.

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pág. 12 (Capítulo 1)

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Capa do livro Os Fidalgos da Casa Mourisca
Páginas: 519
Página atual: 12

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 18
III 25
IV 42
V 54
VI 62
VII 72
VIII 86
IX 102
X 114
XI 127
XII 137
XIII 145
XIV 155
XV 168
XVI 197
XVII 214
XVIII 233
XIX 247
XX 255
XXI 286
XXII 307
XXIII 317
XXIV 332
XXV 348
XXVI 358
XXVII 374
XXVIII 391
XXIX 401
XXX 414
XXXI 426
XXXII 440
XXXIII 450
XXXIV 462
XXXV 477
XXXVI 484
XXXVII 499
Conclusão 515