Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 11: XI Pág. 131 / 519

e conservou-se imóvel ainda depois que o perdeu de vista, e já quando o não ouvia, nem o bater das patas do cavalo no lajedo do pátio; afinal sacudiu a cabeça, como para livrar-se de uma ideia importuna, e murmurou:

- Ora! Tudo isto é natural... Vamos trabalhar!

E foi encerrar-se no quarto.

Maurício saiu a cavalo, mas não estendeu por muito longe o seu passeio matutino. Parecia errar ao acaso, mas acaso era esse que por duas vezes o conduzia na via da casa de Tomé.

E de ambas as vezes uma cabeça de mulher aparecia à janela, ao ruído que faziam no caminho as patas do cavalo, o qual Maurício obrigava a evoluções ao chegar àquele sítio.

Essa cabeça era a de Berta, Maurício saudou-a com um sorriso e dirigiu-lhe algumas palavras de galanteio. Berta retirou-se para dentro, depois de ele ter passado, dizendo consigo:

- É uma imprudência o que estou fazendo. Vamos; é preciso cautela.

E a terceira vez que o sentiu já não apareceu para o ver.

Maurício porém estava contente com a manhã; continuando no seu passeio, dirigiu a cavalo por uma azinhaga cavada em barrancos pelas enxurradas, e depois de difícil e precipitosa descida por entre pinheirais, veio sair a outra rua mais larga, ao fim da qual havia uma residência campestre de menos má aparência.

Era uma casa branca, de um só andar e ao correr da rua, mas de sólida construção; bem caiada, bem pintada e bem esfregada. Entrava-se para ela por um pátio coberto de ramada, cercado de um muro baixo e fechado por uma meia cancela de castanho enegrecido. Dentro deste pátio pouco espaço havia desobstruído; aqui um monte de rama de pinheiro, além duas ou três rimas de achas, acolá um tronco de laranjeira partido, uma mó de moinho, dois carros desaparelhados, dornas, arados, pipas, canastras, escadas de mão e vários outros utensílios de lavoura e de uso doméstico.





Os capítulos deste livro