Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 13: XIII Pág. 150 / 519

E, como não estava à janela, nem ele tinha ainda combinado sinal para a fazer aparecer, eu, para não perder o tempo e as passadas, abri brecha no reduto e entrámos. Ora aqui está. Se isto é ofensa...

Berta respondeu já serenamente:

- Creio que não é, porque não pode decerto haver intenção de ofender-me em quem entra em minha casa na companhia do Sr. Maurício. Ele bem se lembra de que eu fui em pequena a companheira de sua irmã Beatriz, de que sou a afilhada de seu pai, e naquela casa, a que ele pertence, julgo que ainda há, como dantes, muito respeito por estes laços de família e de amizade...

- Há, Berta, há, e tão santo como em outros tempos. E há mais, há a firme resolução de os fazer respeitar aos outros, como lá se respeitam.

- Abranda-te, leão! Não estou disposto a lutar contigo, apesar desses olhares ferozes. Esta menina far-me-á mais justiça, reconhecendo que eu não a ofendi...

- Não falemos mais nisso - acudiu Berta, friamente.

- Mas é um caso de consciência - insistiu o abade.

- Então ninguém tão habilitado para o decidir como um sacerdote - tornou-lhe Berta, com desdém.

Gargalhada do mano bacharel.

- Chucha! Ora mete-te com ela, anda.

- Em coisas de coração - redarguiu o padre, galanteadoramente - são melhores juízes do que os sacerdotes as madamas.

Berta contraiu a fronte com desgosto e respondeu-lhe com maior severidade:

- Quando elas têm um pai, podem eles também ser juízes. E o meu aí vem.

Efectivamente chegava Tomé da Póvoa.

O honrado fazendeiro, que tinha a sua opinião formada a respeito dos fidalgos do Cruzeiro, franziu o sobrolho, assim que os avistou com a filha.

Nem a presença de Maurício bastou para tranquilizá-lo.

Tomé conhecia de pequenos os rapazes da Casa Mourisca e sabia até que ponto se podia contar com o que em Maurício havia de bom, e recear do que nele havia de mau.





Os capítulos deste livro