Depois a fisionomia de Berta denunciava que a conversação dos fidalgos não tinha sido demasiadamente apropositada.
Nem convinha à boa fama de uma casa em que houvesse raparigas a assiduidade de qualquer dos três manos do Cruzeiro.
Tudo isto actuava no espírito de Tomé durante os instantes que precederam a sua introdução na cena.
- Olá! V. Ex.ªs por aqui! Grande honra! Grande honra!
- É verdade, Tomé, - começou o padre a dizer - entrámos, como rapazes de escola, sem pedir licença ao dono da casa; mas confiamos que não se nos leva a mal...
- Ora essa! Levar a mal porquê? V. Ex.ªs quiseram talvez ver por seus próprios olhos como esta abençoada terra, que dantes se definhava nas mãos de um fidalgo, medra agora nas mãos de um lavrador?
- Justamente. E depois tivemos a felicidade de encontrar a menina Berta, que é a maravilha destes sítios.
- Ah! - disse Tomé, com um meio sorriso; e, voltando-se para a filha, que instintivamente se aproximou dele: - É verdade. Agoro me lembra! Olha que a tua mãe recebeu já aquelas meadas. Se queres ir vê-las...
- Vou, vou já - respondeu Berta.
E, cortejando levemente os três rapazes, afastou-se dali.
- Até outra vez, Berta - disse Maurício, com voz afectuosa.
- Sr. Maurício - correspondeu-lhe Berta, e desapareceu por uma rua da quinta.
E pensava consigo mesma:
- Agora... agora... já não sinto medo dele... nem de mim.
- Na verdade, Tomé, a sua casa está um perfeito paraíso e nem os anjos lhe faltam - disse o mano bacharel, depois que Berta se retirou.
- O que eu posso afirmar - insinuou o abade - é que não faltarão também em volta destes muros enxames de namorados. Que te parece, Maurício?
- Berta é digna de todos os respeitos - murmurou Maurício, confuso.