Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 13: XIII Pág. 152 / 519

- Bem, bem, quem diz menos disso? Mas...

Tomé interrompeu o padre.

- Eu lhes digo, meus senhores, Berta é filha de uma família em que todos trabalham, e pouco tempo pode ter para aparecer a namorados. Quando algum homem de bem se me afeiçoar à filha, não serei eu que lha recuse, se o coração dela estiver por esse lado; pois para freira não a quero. Enquanto aos enfeitados que andam por aí a zunir aos ouvidos das raparigas e a fazê-las doidas, Berta sabe bem o que eles valem... mas se por acaso a importunarem muito... eu sei como se dá cabo de um vespeiro.

E, falando, Tomé da Póvoa não ficara imóvel, mas pusera-se naturalmente em caminho da porta, e os três seguiam-no, sem fazer observação alguma.

Só quando o viram parar no portão é que perceberam que o lavrador como que tacitamente os convidava para saírem.

O padre não pôde deixar sem reflexão este procedimento.

- Agradecemos, Tomé, o incómodo que teve a ensinar-nos o caminho da porta para sairmos.

- Os lavradores da nossa terra têm estes excessos de hospitalidade - secundou o doutor.

Tomé corou e respondeu com certa confusão:

- A minha cabeça!... Desculpem. Isto em mim foi distracção. Quando a gente não está bem em si, faz, sem reparar, coisas que muitas vezes lhe podem estar na vontade, mas que por delicadeza não faria se pensasse melhor. Queiram desculpar.

- Está desculpado. Nós também não tínhamos mais que fazer aqui. O fim da nossa visita estava preenchido.

- Sim, também me quis parecer isso.

- Adeus, Tomé - bradou o doutor. - Deixamo-lo entregue à sua vida patriarcal.

- E está um verdadeiro patriarca este bonacheirão do Tomé - disse o padre, batendo familiarmente no ombro do lavrador.

- Bonacheirão? - repetiu Tomé, encolhendo os ombros e com um meio sorriso.





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