Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 16: XVI Pág. 202 / 519

Rimos a perder. Mas ainda havemos de rir mais, porque a história promete dar de si.

O padre, meio estendido pela cama fora para pedir lume ao irmão, confirmou o dito deste com um gesto e um grunhido.

- Mas digam lá o que foi - insistiu Maurício.

- Ontem à noite - principiou o doutor - fui eu aqui com o Lourenço à espadelada do Martinho. Aquilo não esteve de todo mau. Bem boas raparigas, e a luz conveniente. Mas, ali pelas onze horas, apareceram uns apaixonados armados de varapaus, e com uns certos modos que principiaram a fazer ferver-me o sangue.

- Eram os mesmos da feira do mês passado, - acudiu o padre - mal fiz eu em não ter quebrado os ossos ao Gaudêncio quando o deixei atordoado na estrada.

- O certo é - prosseguiu o mano doutor - que os homens começaram a fazer-se finos, e eu que vi o Lourenço já a fumegar, previ logo o caldo entornado e fui procurar o marmeleiro que deixara atrás da porta, para o que desse e viesse.

- Não era preciso. Para aquele basto eu só - anotou o padre, sugando com força o cigarro, que teimava em não arder.

- Meu dito, meu feito, - continuou o outro - nós a sairmos e eles connosco. O Lourenço pôs logo dois fora do combate; eu arquei com o terceiro, que me derreou o braço esquerdo, mas a quem escangalhei a cabeça; o último fugiu-nos. Era o João do Pinhão.

O padre interveio:

- Eu, que lhe ando com sede, disse logo para o Chico: «Vamos daqui cortar-lhe o caminho e dar-lhe uma lição.» E tomámos pela quelha do Regedor.

- E viemos sair mesmo defronte da porta do Tomé! Por detrás da presa. Sabes!

- Sei muito bem.

- Ora o homem não apareceu.

- Mas apareceu coisa melhor - acudiu o padre.

- Havia de andar pela meia-noite e nós sem fazer bulha ainda escondidos na sombra.





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