Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 16: XVI Pág. 201 / 519

- Em todo o caso já vim de minha casa até aqui, e tu, ao que parece, ias no meio de um sono, e lá o padre então... esse vai, pelo que estou vendo, no princípio de outro.

- Mas como diabo te deu para vires aqui tão cedo?

- Cedo? Olha que é meio-dia! Mas... vim encarregado de uma missão.

- De quem?

- De meu pai.

- De teu pai?! Para nós?!

- É verdade. Estou incumbido de vos convidar todos três para um jantar amanhã.

O padre deu uma volta na cama, ao ouvir este convite, e, fitando Maurício com os olhos espantados, ainda que mal abertos, exclamou com voz rouca de sono:

- O tio Luís dá amanhã um jantar?!

- Sim, senhor. Em obséquio à Gabriela, a baronesa de Souto-Real, que lá está desde ontem de manhã.

- Ora essa! - exclamou o padre, e tornou a voltar-se para a parede.

- Bravo! - aplaudiu o doutor - isso já me cheira melhor do que a tal história de Jorge feito guarda-livros. Aquele Jorge como assim há-de ser sempre dessas tolices. E diz-me cá; que tal está agora a Gabriela?

- Não me pareceu mal, ainda que, para te falar a verdade, não lhe dei muita atenção.

- Sim, tu andas agora distraído com a...

Neste ponto interrompeu-se subitamente e, dando uma palmada no travesseiro, a qual lhe fez cair na cama a cinza inflamada do cigarro, que principiou nos lençóis uma centésima combustão, exclamou:

- É verdade! que me ia esquecendo! Fizemos uma grande descoberta esta noite, homem!

- Que foi?

O padre ao ouvir as palavras do irmão deu um salto para sentar-se na cama e, preparando também um cigarro, disse, fitando Maurício, com um sorriso alvar:

- Olha lá, ó Chico. Vê como contas a coisa, porque o Maurício é nervoso; não sei se sabes.

- Mas de que se trata?

- De um caso muito engraçado.





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