E portanto... 
Interrompeu-a neste ponto a entrada de um criado, pedindo para chegar ao quarto de D. Luís, que desejava falar-lhe. 
- Neste caso esperemos o resultado desta entrevista para adoptar um partido - dizia ela, apressando-se em satisfazer os desejos do tio. 
Em caminho para o quarto de D. Luís, a baronesa notou nos corredores e nas salas intermédias um movimento extraordinário que não sabia a que atribuir. 
Os criados iam e vinham apressurados, comunicavam ordens uns aos outros, abriam e fechavam portas, desciam a duas e duas as escadas e transportavam diferentes objectos, como se se tratasse dos preparativos de uma jornada. 
Nos aposentos de D. Luís achou Gabriela o fidalgo em pé no meio da sala, enquanto frei Januário, de joelhos junto de uma arca, introduzia nela algumas peças de roupa, que aquele lhe ia indicando. 
- Eu não sei o que V. Ex.ª vai fazer, Sr. D. Luís, - murmurava entretanto o egresso, que parecia cumprir a tarefa de má vontade, suando em bagas - isto não tem pés nem cabeça. Olhem agora, sem cómodos nenhuns... assim de um momento para o outro... 
D. Luís, sem responder às reflexões do procurador, continuava a indicar-lhe os objectos que devia arrecadar. 
Gabriela dirigiu-se a ele: 
- Mandou chamar-me, meu tio? 
- Ah! mandei, sim, Gabriela. Desculpe importuná-la. Mas tenho que lhe pedir um favor - respondeu D. Luís com forçada placidez. 
- Mil que sejam. 
- Depois do que se passou, não quero demorar-me nesta casa uma só noite. Peço-lhe por isso hospitalidade na sua. Se não me engano, tencionava partir amanhã para lá. Não é verdade? Pois bem, faça o sacrifício de partir hoje e permita-me que a acompanhe. Um quarto e uma enxerga bastam-me. Preciso de me ir costumando a tudo. 
A baronesa ficou por alguns momentos muda de supresa.