Só a muito custo Jorge pôde disfarçar a turbação em que a pergunta de Gabriela o lançou, mas respondeu com aparente serenidade:
- Berta é uma rapariga que por todos os motivos respeito.
E, com muito custo ainda, acrescentou:
- E nada mais.
- E para Maurício o que é Berta? - continuou a baronesa, sorrindo ao voltar-se para o primo mais novo.
Não obteve logo resposta.
- Bem vêem - insistiu ela - que há uma coisa que eu não posso ainda explicar. Assisti à vossa reconciliação, sinal de que tinha havido uma desinteligência. Qual foi pois o motivo dela?
- Uma das minhas loucuras - respondeu Maurício afinal - cedi a um movimento de paixão, encontrando-me com Jorge ontem, quando ele saía da casa de Tomé da Póvoa, e soltei expressões que parece que ainda me estão queimando os lábios.
- Então, visto isso, achavas-te com direito de sentir ciúmes. Segue-se que amas Berta. E é deveras esse amor?
A fronte de Jorge contraiu-se levemente ao ouvir a pergunta, e enquanto aguardava a resposta do irmão.
- Se responder pelo que penso dele, - disse Maurício - juro que é.
Desta vez um ligeiro sorriso deslizou nos lábios de Jorge.
- Isto quer dizer - tornou a baronesa - que, respondendo pelo que pensas de ti, receias muito que não. Pois, meu caro priminho, a ocasião exige que se ponham de lado caprichos e brinquedos de criança, e que se siga com sisudeza e tenacidade de homem um caminho qualquer. Não estamos em tempo de brincar. Dá-se uma grave crise, em que todos os bons planos de Jorge podem ser destruídos de encontro à resistência do tio Luís. Eu nem posso calcular o que resultará de tudo isto.