Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 19: XIX Pág. 252 / 519

E o Sr. frei Januário acha-se com forças de desenredar esta meada, embaraçada como está?

- Pois aí é que bate o ponto - acudiu o egresso. - Eu... é verdade que por mais de vinte anos dirigi estas coisas e, se mais não fiz, foi porque os tempos eram o que nós todos sabemos. Mas, depois que o Sr. Jorge tomou conta disto, perdi o fio da meada, entende V. Ex.ª? Eu tinha cá o meu sistema e por ele me guiava. Agora porém venho encontrar as coisas todas mudadas e... enfim, pode ser que estejam muito bem, não digo menos disso, mas eu é que não as entendo. Para pôr tudo outra vez no pé de dantes, isso leva um tempo dos meus pecados; para continuar no caminho em que isto vai, era preciso ter muito trabalho e, a falar a verdade, já não estou na idade disso.

- E então que tenciona fazer?

- Eu sei? O fidalgo não há quem o convença. Credo! Vão lá hoje contrariá-lo na mais pequena coisa! Vai tudo pelos ares! Por isso, a mim lembra-me...

- O que lhe lembra, Sr. frei Januário? - perguntou Gabriela, fitando-o com olhar penetrante.

- Lembrava-me dizer ao fidalgo que sim senhor, que tudo se havia de fazer como ele mandava, que eu me encarregaria da direcção da casa, mas, por baixo de mão, continuar o Sr. Jorge levar as coisas lá pelo seu sistema.

- E quer tomar sobre si a responsabilidade dos meus actos, Sr. frei Januário? Repare bem. Já sabe a que portas costumo ir bater quando preciso de capital, e quais os meios que adopto. As suas crenças e opiniões devem sofrer com isso.

- E a mim que me importa? - tornou o padre impaciente. - Afinal de contas, a casa é sua e não minha. O mal que fizer mais o há-de sentir do que eu.

- Não depõe muito a favor da sinceridade do seu afecto à minha família esse dizer. Eu queria antes vê-lo opondo-se energicamente à administração viciosa que principiei.





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