Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 19: XIX Pág. 251 / 519

Frei Januário entrou tossindo e assoando-se de uma maneira particular, que para quem o conhecesse era indício claro de uma grave preocupação de espírito.

- Então, Sr. frei Januário, como se tem dado nestas ruínas? - perguntou-lhe a baronesa com a amabilidade de dona de casa.

- Excelentemente, minha senhora. Então até direi a V. Ex.ª que há muito tempo não dei com um cozinheiro que melhor atinasse com o meu paladar.

- Sim? O Gavião merece-lhe esse conceito? Se o rapaz o sabe! É capaz de se me estragar de vaidade. Não o gabe na presença. Recomendo-lhe toda a discrição, Sr. frei Januário. Olhe lá.

- Mas é que é verdade o que eu digo. Que lhe pareceram a V. Ex.ª aqueles bifes hoje ao almoço? Olhe que aqueles bifes!... Não lhe digo nada! O rapaz é jeitoso. Mas deixemos isso. Trata-se de uma coisa que me dá cuidado.

- Então que é? - perguntou a baronesa, recostando-se. - Não quer sentar-se, Sr. frei Januário?

O padre puxou uma cadeira, sentou-se e tornou a tossir e a assoar-se.

- O Sr. D. Luís - disse ele, interrompendo-se a cada momento - enfim... eu há tempos a esta parte ando assim a modo de doido.

- Vamos, Sr. frei Januário, solte a grande novidade que nos traz debaixo do capote. Depois fará os comentários, que entenderemos e apreciaremos melhor.

- O Sr. D. Luís chamou-me há poucos momentos ao seu quarto para me dizer... para me ordenar...

- O quê?

- Para me confiar de novo a procuração que me retirara, e ordenar-me que participasse isto mesmo ao Sr. Jorge, para seu governo. Enfim...

- Cumpra-se a vontade de meu pai - disse Jorge - e Deus permita que ele tenha motivos para se aplaudir por ela.

- Eu fazia melhor conceito do bom senso do tio Luís, - observou francamente a baronesa - confesso que fazia.





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