Queres que te diga quem é? Olha que também eu nunca tive outra na ideia.
- Mas eu não pensei ainda a sério...
- Adeus; e que tens tu que pensar? Porque é que te não havia de convir a pequena do Tomé?
Clemente respondeu um pouco sobressaltado:
- A mim decerto convinha; agora eu é que talvez lhe não convenha. A Berta está educada tanto à cidade...
- E com quem queres tu que ela case, não me dirás? Com algum dos pequenos do fidalgo, hem? Que eles estão mesmo ali à espera dela. Deixa-te de tolices. A rapariga deve erguer as mãos ao céu se agarrar um marido, que não é nenhum labrego, que é um homem de bem e capaz de estimá-la.
- Mas o pai, que a educou assim e que em tanta conta tem as prendas da filha, há-de aspirar a mais.
- O quê? O Tomé é um homem de juízo. E então digo-te mais, eu já lhe toquei nesse negócio, e o homem não se deitou de fora disso, antes mostrou que lhe agradava bem o projecto.
- Deveras falaram nisso?
- Então não to estou a dizer? E o Tomé da Póvoa lembra-me bem que me disse: «A minha Berta o que deve esperar é um marido honrado, trabalhador e que a saiba estimar, e o seu Clemente é a nata dos rapazes.» Depois, aqui para nós, o Tomé sabe as circunstâncias em que tu estás, e, vamos lá, isso também influi. E faz ele muito bem, lá isso ninguém lhe pode levar a mal.
- Porém Berta...
- Deixa-te de acanhamentos, rapaz. Sabes o que mais? O que eu estou vendo é que tu como assim não dás conta do recado. Por isso vai ter com o Jorge. Ele é ali tudo em casa do Tomé, é quem dá lá os dias santos. O que ele diz é o que se faz, nem se mexe um pé em casa sem consultar o pequeno. E juízo tem ele para aconselhar bem, que aquilo foi mesmo um milagre do Céu o nascer aquele rapaz na família. Pois vai tu ter com ele, vai e diz-lhe as tuas tenções, e ele que se encarregue do mais.