Assim que o filho efectivamente declinou o encargo da regedoria, disse-lhe a ajuizada matrona:
- Agora para a dares em cheio, sabes tu o que deves fazer? É casar-te. Isso é que era ouro sobre azul. Porque enfim, rapaz, só assim é que se ganham raízes em casa e que um homem é deveras homem de família. Enquanto solteiros, ora adeus, por melhores que vocês sejam, lá vem um serão, lá vem uma caçada, lá vem uma doida de uma rapariga que vos faz andar a cabeça à roda. Não há como isto de ouvir gemer as crianças em casa e cantar a mulher a arrolá-las. Tu ris-te? É o que te digo. Quando eu me casei com teu pai, que Deus haja, todos me diziam: Ó filha, não levas homem que te gaste muito o traste da casa.» Porque, enquanto solteiro, ele tinha sido daqueles de se lhes tirar o chapéu, dos tais que Deus mandou fazer. Pois era vê-lo depois. Logo que podia, ele aí estava ao pé de mim a brincar com as crianças. Até muitas vezes eu lhe cheguei a dizer: «Ó homem, sai-me daqui para fora; eu não gosto de ver homens tão caseiros.» Por isso, rapaz, faz o que te digo, casa-te, que estás em boa idade.
- Não vou longe disso, minha mãe, mas bem vê que não é coisa que se faça assim do pé para a mão.
- Não, olha, tu também para andares muito tempo a arrastar a asa à rapariga é que não és, que isso sei eu. Pois então é tratar da coisa como de negócio sério e casar.
- Mas... e a noiva? Aí está já a primeira dificuldade.
Ana do Vedor olhou muito direita para o filho, e depois de um instante de silêncio interpelou-o:
- E então tu, na tua verdade, ainda não lançaste as tuas vistas?
Clemente encolheu os ombros, como quem não podia dizer que não, nem queria dizer que sim.
- Ora para mim é que tu vens com isso. Lançaste, sim, e nem podia deixar de ser, que não tinhas muito onde escolher.