Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 26: XXVI Pág. 370 / 519

.. Pois porque te parecia que me havia de custar?

E Jorge dizia tudo isto com uma volubilidade e com uma inquietação que admirava Clemente.

- A mim? Por nada - respondeu este. - Eu dizia que no caso de não querer.

- Mas por que não? Falo. Não tenho a menor dúvida. Amanhã dar-te-ei a resposta. Adeus. Agora peço-te licença para examinar umas contas.

- Eu retiro-me.

- Então, adeus. E vai descansado; hoje mesmo tratarei disso. É uma coisa tão simples! Pois não te parece que é uma coisa simples? Sim, porque bem vês que eu nisso não tomo parte activa. Por acaso tinhas algum motivo para supor...

- Nenhum.

- Mas parecia que julgavas que eu tinha algum motivo... talvez...

- Eu não julgava tal - respondia Clemente, cada vez mais espantado com a insistência de Jorge, tão singular pelo menos como a sua primeira irritação.

Jorge conduziu o seu amigo até à porta do gabinete, onde se despediu dele, apertando-lhe afectuosamente a mão.

Depois de Clemente sair, Jorge voltou a sentar-se à banca, e como quem se dispunha a prosseguir no trabalho interrompido, pôs-se com afectada tranquilidade a aparar um lápis, e trauteando a meia voz; mas tal era o estado nervoso em que ficara e a sua distracção tão completa, que o lápis desfazia-se-lhe nas mãos, em vez de se aprontar para serviço. De repente arremessou de si o lápis, o canivete e vários livros e papéis que encontrou diante, e erguendo-se exclamou com acentuada amargura:

- Está pois decidido que eu vá pedir a Tomé da Póvoa, e para Clemente, a mão de sua filha! Tem graça! Sempre se me preparam casos nesta vida!

Principiou a passear na sala, com os braços cruzados, a cabeça pendida e o pensamento disputado por as mais contrárias paixões.

- Aí está uma solução que eu não previa - continuou ele.





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