Eu não posso ser para vós um estranho, nem vós para mim o sois. Farei o que desejas. Não faças caso das minhas palavras. Tenho andado um pouco impertinente estes dias por causa de certos negócios, e por isso falei há pouco mais vivamente. Desculpa. O teu projecto é razoável, eu falarei nele a Tomé. Que dúvida? O que não prometo é servir-me de qualquer influência que tenha sobre ele, porque... porque enfim... tenho escrúpulos.
- Nem eu queria que o fizesse. Basta que lhe exponha o caso; que lhe diga que estou resolvido a casar, e sentindo amor...
- Será melhor não falarmos em amor - atalhou Jorge com renascente impaciência - porque afinal, Clemente, vendo as coisas como elas são, tu não amas Berta.
Ao olhar espantado com que foram acolhidas estas palavras, Jorge respondeu já com mais força:
- Não amas, homem, não amas. Talvez estejas persuadido de que a amas, mas não há tal amor. Desengana-te. Isso em ti é um projecto frio, pensado, no qual só achaste vantagens e portanto resolveste adoptá-lo. Tens considerações por Berta, entendes que podes estimá-la; mas amor é outra coisa. Deixemos porém isto. Fica decidido, eu falarei a Tomé e dar-te-ei a resposta.
- Agradeço-lhe, Sr. Jorge. Mas veja lá, se lhe custa...
- Porque há-de custar? Ora essa! Se falo quase todos os dias com o Tomé. Em lugar de conversarmos no tempo que faz ou no estado das terras, conversaremos nisso. Sim, porque para mim é um assunto como outro qualquer. O casamento de Berta é um assunto em que eu posso conversar com Tomé, naturalmente. Pois que tinha eu com o casamento de Berta? Eu não sou irmão dela. Estimo-a, é verdade, mas... o que é certo é que... é que me não compete importar-me com o casamento de Berta. Já vês então que não me pode ser custoso falar nisso ao pai.