- Sim, senhor; é a maneira mais simples e mais natural de cortar as dificuldades de que tanto me receava. Assim tudo se resolve. Fixa-se o meu futuro, cessam as minhas hesitações, acalma-se a minha febre; aplicarei o pensamento exclusivamente aos meus negócios... E ela... será feliz. Serão felizes... O casamento é natural... O Clemente é bom rapaz e Berta...
Esta ideia provocou um movimento de reacção.
- Berta e Clemente! Clemente marido de Berta! Berta casada com Clemente! Não me posso conformar com esta ideia. Não posso costumar-me a reunir estes dois nomes. É monstruoso, é impossível!
E ficou por algum tempo abatido, com os olhos fitos no chão, como subjugado por aquele pensamento. Depois tornava, com nova energia:
- Mas quem tem a culpa? Sou eu, eu, que não tenho coragem para passar por cima de preconceitos ridículos, que me prendo com teias de aranha e fico perpetuamente aguardando não sei o quê. Pois que podia eu esperar? Ou este sentimento em mim é real e poderoso ou não é. Se não é, com que direito me estou incomodando com o casamento de Berta? Se é, porque lhe não obedeço? porque não me declaro, porque hesito?...
Vinha depois a reflexão acalmar este momentâneo paroxismo.
- Sim, e havia de descarregar mais esse golpe sobre aquele velho, que não tem culpa em acatar esses preconceitos no valor de um credo religioso! O primeiro golpe, por doloroso que ele o sentisse, foi-lhe salutar e evitou-lhos mais cruéis. Este porém só teria compensação para mim, e ele não lhe sentiria o benefício. Vamos, deixemo-nos de loucuras. Resolvi ter coragem. Hei-de tê-la. Falarei a Tomé.
Vinha-lhe em seguida um pensamento diverso.
- E qual será a resposta de Berta? Ela não pode aceitar Clemente. A educação que recebeu... E porque não há-de aceitar? Clemente é um rapaz honrado, trabalhador, capaz de estimar e proteger a sua mulher.