Tornou a razão a fazer-se ouvir.
- Mas aí estou eu com a minha loucura acusando aquela pobre rapariga de defeitos que nunca lhe pude descobrir. Mas se esta ideia faz-me perder o juízo! Pelo contrário, a Berta tem muito bom senso, há-de compreender o carácter de Clemente, apreciar as qualidades daquela excelente alma e aceitar a proposta... e até sem a menor hesitação. É um marido afinal. As mulheres o que querem é um marido. Talvez até o Clemente agrade a Berta... Hão-de ser felizes. Porque não?... Berta não tem aspirações mais sólidas... Não pode ter... Aquilo com Maurício é um capricho. Todos se hão-de dar bem, e Berta com a Ana do Vedor... Que paz doméstica! Tudo isto afinal é naturalíssimo. Eu sou que lhe estou dando mais importância do que merece... Trata-se de dizer a uma rapariga: «aí está um homem que te pretende para mulher». A rapariga, que não tem maiores aspirações, responde que aceita. E o casamento faz-se, e tudo entra no caminho ordinário, e eu mesmo me hei-de habituar...
A explosão foi maior desta vez, que mais prolongado havia sido o período de repressão.
- Não, não me hei-de habituar - exclamou ele agitadíssimo - , porque... porque eu amo-a. Escuso de mentir a mim mesmo. Amo-a! É uma fatalidade mas amo-a. Foi o meu primeiro amor e há-de ser o último. Amo-a e hei-de padecer horrivelmente, vendo-a casada com outro. Mas, não importa, vencerei as minhas paixões. Se continuar a amá-la, ninguém o saberá; se odiar Clemente, sufocarei esse ódio no coração; e se ele se despedaçar nesse esforço, morrerei sem deixar no mundo o segredo da minha morte.