Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 27: XXVII Pág. 377 / 519

Isto é assim como que uma delicadeza que se não aprende, que nasce com as pessoas. Ora o Clemente é dos tais.

- Em vista do que ouço, reputo-me feliz por ter sido o portador de tão fausta nova, e de concorrer, ainda que secundariamente, para obter-lhe um genro tão precioso - disse Jorge, cujo despeito se exacerbava.

- Devagar, devagar, esta é cá a minha opinião, mas não sou eu que me caso e portanto Berta é que há-de decidir. Eu não duvido dar conselhos a minha filha e dizer-lhe o que penso deste ou daquele rapaz de quem ela se lembre para noivo; mas constrangê-la, isso é que eu não faço.

- Decerto; mas creio que Berta não será tão cega que não veja as excelências que concorrem na pessoa de Clemente, e que se não lisonjeie da preferência que lhe mereceu.

- Pois eu também quero crer que o não enjeitará. Mas enfim, a gente vê as coisas com uns olhos e elas com outros. Por muito ajuizadas que sejam as raparigas afinal têm olhos de raparigas e às vezes lá descobrem em um homem umas coisas, que as cativam ou que as desgostam, e ninguém pode saber o que lhes agradará mais. Em todo o caso eu vou consultá-la.

- Muito bem. Consulte-a e se, como é de esperar do juízo dela, Clemente for bem acolhido, dê-me parte para o participar ao meu constituinte

Jorge não podia despojar as suas palavras de todo o tom de ironia, ao referir-se a Clemente.

- Mas... - disse com certa hesitação Tomé - então retira-se já?

- Pois não diz que vai consultar Berta?

- Mas, se se demorasse, podia já saber...

- A urgência não é tanta que se torne necessário esperar. Mas enfim esperarei. Vou dar uma volta pelo campo, enquanto lhe fala.

- E tinha dúvida em ficar?

- Ficar aonde?

- Aqui.

- A fazer o quê?

- A ouvir a resposta de Berta.





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