Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 28: XXVIII Pág. 394 / 519

Luís o desgosto e a pena que, no estado de saúde e de espírito em que o via, ela receava que lhe pudesse ser fatal.

Uma manhã foi ela procurar o seu primo Jorge, muito convencida de que tinha enfim descoberto o expediente que procurava.

Jorge trabalhava com uma actividade febril, depois que se ajustara o casamento de Berta. Parecia querer procurar no trabalho uma embriaguez que lhe amortecesse as dores do coração que aquele facto lhe produzira. Mas a violência do esforço cansava-o, bem claro o revelava na palidez e depressão da fisionomia.

Gabriela não pôde deixar de fazer uma observação mal o viu aquela manhã:

- É preciso cautela, primo Jorge. Nada de trabalho imoderado! Lembra-te de que a tua constituição não é para tais fadigas.

- Porque me diz isso?

- Porque te estou lendo no rosto a necessidade de ar livre, de sol, de exercício e de distracção do pensamento.

- Efeitos de uma noite mal passada. Eu não me sinto cansado.

- Embora. Sê prudente. Olha que o bom êxito dos teus planos depende da tua perseverança, e a perseverança está mais na combinação dos esforços do que na violência deles.

- Creia que me sei poupar.

- Muito bem. Agora farás o favor de fechar esses livros e de me escutar, porque tenho que te dizer.

- As suas ordens - respondeu Jorge, obedecendo-lhe.

- Entrarei sem demora no assunto. Sabes que formei o plano de partir amanhã pela madrugada para Lisboa?

- Então que urgências são essas?

- É que se não tomo uma resolução assim, não acabo de partir. Vou de adiamento em adiamento até ao fim do ano. E é indispensável que parta.

- Indispensável - repetiu Jorge com ar de dúvida.

- Com certeza que é. Além de que é necessário arranjarmos Maurício. Hás-de concordar comigo, que esta vida perde-o.





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