- Isso é assim. Porém Maurício que parta só.
- Não partirá.
- Por quê?
Gabriela hesitou em dar a razão que Jorge lhe pedia e respondeu evasivamente:
- Sei que não partirá. Demais, é conveniente que eu lhe prepare o caminho em Lisboa, e por isso preciso de lá ir.
- Porém meu pai?
- Pois aí é que está a dificuldade, e por causa disso é que eu reclamei esta conferência.
- Então?
- O tio Luís está bastante doente. Do corpo e do espírito. Chega a dar-me cuidados. Naquele estado não pode prescindir de certos carinhos e desvelos, próprios só de uma mulher. São-lhe já tão indispensáveis que ele, coitado, aterra-se somente com a ideia de ter de viver sem eles. Por isso não quer ouvir falar na minha partida. A mim mesma me custa deixá-lo, porque sei que lhe hei-de fazer falta.
- E contudo diz que parte amanhã!
- É verdade, porque julgo ter descoberto uma combinação que remediará tudo.
- Qual é?
- É preciso substituir-me. É preciso sentar uma mulher à cabeceira do tio Luís, mas uma mulher que o estime, que olhe por ele, que o distraia e a quem ele consagre uma afeição que o faça esquecer de mim, e que lhe torne essa enfermeira ainda mais necessária do que eu hoje lhe sou, e ninguém mais está neste caso do que a afilhada dele, essa rapariga por quem o tio parece haver já manifestado uma particular simpatia, e que melhor do que ninguém pode vir a exercer sobre ele uma influência salutar; numa palavra, Berta da Póvoa, a filha do Tomé.
Jorge não pôde reprimir um movimento de contrariedade ao escutar o projecto da baronesa.
Ergueu-se da mesa, junto da qual estivera sentado, e disse com certo modo sacudido, como exprimindo uma opinião irrevogável:
- Não pode ser.