Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 28: XXVIII Pág. 395 / 519

Cada dia que se passa para ele nesta ociosidade campestre exerce uma funesta influência sobre aquele carácter, aliás de muito aproveitáveis qualidades.

- Isso é assim. Porém Maurício que parta só.

- Não partirá.

- Por quê?

Gabriela hesitou em dar a razão que Jorge lhe pedia e respondeu evasivamente:

- Sei que não partirá. Demais, é conveniente que eu lhe prepare o caminho em Lisboa, e por isso preciso de lá ir.

- Porém meu pai?

- Pois aí é que está a dificuldade, e por causa disso é que eu reclamei esta conferência.

- Então?

- O tio Luís está bastante doente. Do corpo e do espírito. Chega a dar-me cuidados. Naquele estado não pode prescindir de certos carinhos e desvelos, próprios só de uma mulher. São-lhe já tão indispensáveis que ele, coitado, aterra-se somente com a ideia de ter de viver sem eles. Por isso não quer ouvir falar na minha partida. A mim mesma me custa deixá-lo, porque sei que lhe hei-de fazer falta.

- E contudo diz que parte amanhã!

- É verdade, porque julgo ter descoberto uma combinação que remediará tudo.

- Qual é?

- É preciso substituir-me. É preciso sentar uma mulher à cabeceira do tio Luís, mas uma mulher que o estime, que olhe por ele, que o distraia e a quem ele consagre uma afeição que o faça esquecer de mim, e que lhe torne essa enfermeira ainda mais necessária do que eu hoje lhe sou, e ninguém mais está neste caso do que a afilhada dele, essa rapariga por quem o tio parece haver já manifestado uma particular simpatia, e que melhor do que ninguém pode vir a exercer sobre ele uma influência salutar; numa palavra, Berta da Póvoa, a filha do Tomé.

Jorge não pôde reprimir um movimento de contrariedade ao escutar o projecto da baronesa.

Ergueu-se da mesa, junto da qual estivera sentado, e disse com certo modo sacudido, como exprimindo uma opinião irrevogável:

- Não pode ser.





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