Estava pois em iminente risco a paixão por Gabriela, quando a repentina partida desta e a sua carta de despedida lhe fizeram outra vez pender o coração para aquele lado.
Todos os despeitos gerados com a notícia de Ana do Vedor dissiparam-se perante os despeitos novos.
Acabando de ler o bilhete de Gabriela, Maurício pensou em montar logo a cavalo e seguir no encalço da baronesa, até atingi-la. Custou a persuadi-lo da conveniência de moderar a precipitação dos seus projectos. Decidiu porém apressar quanto pudesse os preparativos da jornada e partir naquele mesmo dia para Lisboa. A permanência no campo era-lhe já insuportável.
Foi sob estas impressões que, em companhia de Jorge, ele entrou no quarto de D. Luís.
O pai revestiu-se outra vez do seu aspecto de severidade ao dirigir aos filhos um olhar interrogador.
Maurício falou primeiro:
- Há muito que está projectada a minha partida para Lisboa. A prima Gabriela saiu esta manhã para lá, e, escrevendo-me, deixou-me dito que me ficava esperando. Venho pedir a V. Ex.ª autorização para partir hoje mesmo.
D. Luís respondeu secamente:
- Pode ir. Fale a frei Januário, para lhe dar o dinheiro de que precisa.
Em seguida voltou o olhar para Jorge, como convidando-o a expor o motivo da sua visita.
Jorge aproximou-se e, abrindo uma pasta, apresentou ao pai um maço de papéis.
- Desejava que V. Ex.ª examinasse esses documentos e títulos, que dizem respeito a propriedades nossas e a contratos antigos, e que eu pus em ordem com o fim de facilitar o exame.
- Mas para quê? Eu não quero estar com isso. Que necessidade há de incomodar-me com essa papelada?
- É porque depois desejava expor a V. Ex.ª os planos que concebi, e, no caso de merecerem a sua aprovação, pedir-lhe licença para proceder em harmonia com eles.