Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 29: XXIX Pág. 410 / 519

Nesse dia passou duas vezes pela Herdade.

Estava pois em iminente risco a paixão por Gabriela, quando a repentina partida desta e a sua carta de despedida lhe fizeram outra vez pender o coração para aquele lado.

Todos os despeitos gerados com a notícia de Ana do Vedor dissiparam-se perante os despeitos novos.

Acabando de ler o bilhete de Gabriela, Maurício pensou em montar logo a cavalo e seguir no encalço da baronesa, até atingi-la. Custou a persuadi-lo da conveniência de moderar a precipitação dos seus projectos. Decidiu porém apressar quanto pudesse os preparativos da jornada e partir naquele mesmo dia para Lisboa. A permanência no campo era-lhe já insuportável.

Foi sob estas impressões que, em companhia de Jorge, ele entrou no quarto de D. Luís.

O pai revestiu-se outra vez do seu aspecto de severidade ao dirigir aos filhos um olhar interrogador.

Maurício falou primeiro:

- Há muito que está projectada a minha partida para Lisboa. A prima Gabriela saiu esta manhã para lá, e, escrevendo-me, deixou-me dito que me ficava esperando. Venho pedir a V. Ex.ª autorização para partir hoje mesmo.

D. Luís respondeu secamente:

- Pode ir. Fale a frei Januário, para lhe dar o dinheiro de que precisa.

Em seguida voltou o olhar para Jorge, como convidando-o a expor o motivo da sua visita.

Jorge aproximou-se e, abrindo uma pasta, apresentou ao pai um maço de papéis.

- Desejava que V. Ex.ª examinasse esses documentos e títulos, que dizem respeito a propriedades nossas e a contratos antigos, e que eu pus em ordem com o fim de facilitar o exame.

- Mas para quê? Eu não quero estar com isso. Que necessidade há de incomodar-me com essa papelada?

- É porque depois desejava expor a V. Ex.ª os planos que concebi, e, no caso de merecerem a sua aprovação, pedir-lhe licença para proceder em harmonia com eles.





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