Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 29: XXIX Pág. 409 / 519

Maurício, que dias antes não recebera também com sangue-frio a notícia da presença de Berta, estava naquela manhã muito preocupado para se alterar ao recebê-la.

A súbita partida de Gabriela surpreendera-o e exacerbara a paixão nascente que por ela sentia.

A baronesa calculara bem o alcance da medida e assegurara-lhe ainda mais o efeito, deixando a Maurício um bilhete concebido nestes termos:

«Meu caro primo.

Parto para Lisboa. Não preveni pessoa alguma. Levo muitas saudades comigo. Não sei se as deixo também. Se acreditasse na constância de certos sentimentos, consolar-me-ia a ideia de te ver dentro de poucos dias em Lisboa. Mas infelizmente duvido tanto! Por isso limita-se a deixar-te ficar um longo e desconsolado adeus a

Tua prima e muito afeiçoada

Gabriela.»

Esta carta veio a tempo para atalhar os primeiros sintomas manifestados já em Maurício de uma nova crise, que podia ser fatal aos planos da baronesa.

Como dissemos, Maurício, imaginando que à sua nova paixão pela baronesa não seria indiferente o coração de Berta, recebia dessa ideia, que aliás o mortificava, um estímulo que atiçava aquela paixão. Súbita e inesperadamente porém veio uma notícia desvanecer-lhe estas ilusões. Foi a do próximo casamento de Berta, que a Ana do Vedor lhe deu, respondendo assim com ar triunfante às dúvidas que ele em tempo antepusera contra tal união.

Ana assegurou-lhe que Berta e toda a família haviam acolhido com fervor a ideia, e que mesmo Jorge a apoiara.

Esta revelação impressionou Maurício. Seria possível que Berta não sentisse por ele afecto algum? Ter-se-ia ele iludido, imaginando havê-la impressionado? Haveria antes em tudo isso um plano de Jorge?

Estas suspeitas despertaram-lhe uma leve irritação de vaidade e avivaram as quase apagadas impressões que lhe restavam no coração da imagem de Berta.





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