- Eu não tenho cabeça para entrar nessas investigações. Tive sempre por costume deixar os negócios confiados a procuradores.
- Se V. Ex.ª me autoriza ainda como tal, eu não o incomodarei.
D. Luís sentia que depois das ordens terminantes que dera ao padre Januário, em um momento de despeito contra o filho, tinha motivo para irritar-se ao ver Jorge em flagrante desobediência, ocupando-se ainda da administração da casa. Mas a violência do despeito abrandara, e interiormente o fidalgo estimava ter sido desobedecido.
- Façam o que quiserem - respondeu ele -, o futuro que prepararem não será para mim que o preparam.
- Então se V. Ex.ª não duvida assinar estes papéis...
E Jorge apresentou ao pai uma série de documentos, que requisitavam a assinatura do chefe e representante actual da família.
D. Luís fez um gesto de enfado mas correu com a vista o quarto a procurar alguma coisa.
Berta, compreendendo-o, trouxe-lhe ao leito os preparativos para escrever.
E o fidalgo, com a mais aristocrática indiferença, assinou sem ler os papéis que Jorge sucessivamente lhe apresentava, autorizando assim as medidas que porventura deviam regenerar a sua casa com a mesma facilidade e imprevidência com que tantas vezes autorizara as que a haviam perdido.
- Agora precisava também da autorização de V. Ex.ª - prosseguiu Jorge - para ausentar-me por alguns dias, porque necessito de visitar as nossas propriedades mais distantes.
D. Luís repetiu com o mesmo tom de voz a frase que já dissera a Maurício:
- Pode ir.
Os dois rapazes curvaram-se respeitosamente diante do velho e aproximaram-se para receber-lhe as bênçãos.
D. Luís estendeu a mão, que um após outro beijou, e saudando-o outra vez iam a sair do quarto.
O coração do pai sentiu porém a necessidade de uma despedida mais afectuosa naquele instante em que ambos os filhos o iam deixar.