- Maurício - disse ele quando os viu já próximos da porta -, repare que vai entrar em uma sociedade nova para si, cheia de seduções e perigos. Seja homem e digno do nome que tem, e... dê-me o gosto de o ver feliz e honrado.
- Terei sempre em vista o seu nobre exemplo, meu pai, e espero que assim nunca me desviarei do caminho da honra.
- Talvez o não conduza pelo da felicidade - murmurou o velho; e depois, dirigindo-se a Jorge:
- Jorge, espero do seu juízo que seja prudente no uso dessas autorizações que lhe dou. Repare que nos esforços que faz para restaurar a sua casa não sacrifique o nome que a torna ilustre. Seja sempre tão brioso como é activo.
- Espero que nunca os meus actos deslustrarão o nome com que me honro.
E os dois irmãos retiraram-se enfim.
Vendo-os sair, D. Luís voltou-se para Berta, suspirando, e disse com desconforto:
- E ficamos sós, Berta!
- Eles voltarão cedo, e com eles mais alegria para esta casa.
D. Luís fez um sinal de quem não tinha fé no futuro.
- Tem paciência, Berta - disse daí a pouco -, mas se pudesses ir ver que lhes não falte nada... O padre é capaz de se descuidar das malas, e Maurício não repara.
Berta apressou-se a satisfazer o desejo do velho.
Encontrou Jorge e Maurício na casa de jantar, fazendo os preparativos para a jornada.
Berta coadjuvou-os com vantagem.
- Berta - disse Maurício -, neste reconhecimento de despedida, será bastante generosa para perdoar-me algumas loucuras que talvez não fossem de todo inocentes?
- Antes de perdoar é preciso condenar, e eu nem sequer acusei!
Maurício apertou-lhe a mão com verdadeira e desta vez insuspeita simpatia.
- Sabe, Berta, que vendo-a aqui a ajudar-nos assim nesta tarefa caseira, custa-me a acreditar que não seja nossa irmã?!
- E como é que se desengana? Interrogando o coração?
- Não, que esse persuade-me do mesmo.