Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 31: XXXI Pág. 428 / 519

Uma impaciência insuperável desviava-o desse caminho.

As brilhantes aparências, a vida agitada, a variedade de impressões, as lutas incessantes, alimento da febril ansiedade que devora certos espíritos, eram-lhe indispensáveis. Sob a influência de tais estímulos, as suas faculdades entravam em acção. Não se contentava com os aplausos da consciência própria, precisava dos aplausos do mundo. Para os conquistar tentaria esforços sobre-humanos.

Jorge era uma alma formada para o dever; Maurício uma alma formada para a glória.

D. Luís não pôde deixar de sentir-se lisonjeado com o bom êxito do filho, não obstante as vagas apreensões que sentia de que a íntima convivência com a corrupta mocidade da corte o contaminasse. Felizmente o velho realista não tinha já a seu lado o padre procurador, com a sua incessante pregação contra os costumes do século, que era dantes o tema obrigado das conversações diárias. E desde então as prevenções do fidalgo haviam perdido muito das cores carregadas que as tingiam.

Às primeiras cartas seguiram-se outras, confirmando as notícias dadas naquelas.

As auras continuavam a soprar favoráveis a Maurício nos mares insidiosos da corte. A baronesa dava quase como certo o próximo despacho dele para adido a uma embaixada de Viena ou de Berlim.

Maurício relacionara-se intimamente com os primeiros personagens da situação política dominante, que se interessavam por ele. As simpatias femininas, poderoso elemento de prosperidade naquelas altas regiões, como em geral em todas, conspiravam também a seu favor.

«Com mais um pequeno esforço talvez fosse possível fazê-lo ministro - escrevia a baronesa a Jorge -, que não é em Portugal dos postos de mais difícil acesso. Ministro da marinha pelo menos, que é a pasta dos principiantes e a mais adequada para os homens de imaginação como ele, onde têm muito com que a alimentar, porque é a pasta simbólica das nossas glórias passadas e pouco mais».





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