Tudo quanto havia de eminente no jornalismo político, na literatura, no parlamento, no foro constituía agora o círculo habitual das relações de Maurício, e nas conversas animadas, cheias de vivacidade, brilhantes de eloquência de espírito, em que ele também tomava parte, jogavam como princípios assentes, certas proposições que ele fora educado a considerar como abomináveis heresias.
Isto era o bastante para que ele abjurasse o credo velho com que o haviam catequizado na província e professasse a doutrina nova.
A baronesa, que revelava tudo isto muito extensamente a Jorge, colorira e ocultara parte da verdade a D. Luís, para não o assustar.
Ela porém via com prazer o êxito do seu protegido que excedia a sua expectativa.
«Em pouco tempo - escrevia ela a Jorge, - teu irmão tornou-se um homem da moda e é para ver o bem que ele sabe sustentar a posição que tomou de assalto. Nas frisas de S. Carlos, nos primeiros salões de Lisboa, Maurício está como em terreno conhecido, e muitos nados e criados nestes ares invejam-lhe o seu aplomb e o seu savoir faire inimitáveis. O ministro dos negócios estrangeiros, a quem muito especialmente o recomendei, dá-me as melhores esperanças de ele ser despachado como adido para o corpo diplomático, carreira que sobre todas me parece a mais talhada para as predilecções e talentos do nosso protegido».
Estas notícias foram recebidas com prazer por Jorge e por D. Luís. Este recordou-se, ao lê-las, do tempo da sua juventude, em que também trilhara a carreira da diplomacia. Jorge conhecia a fundo o carácter do irmão e sentia que ele tinha de facto entrado no caminho para onde o chamavam os seus talentos e as suas disposições morais.
A imaginação de Maurício era muito poderosa e exigente; as tarefas proveitosas, mas modestas, o trabalho na obscuridade da província, a consagração de uma vida inteira ao cumprimento de um dever, não lhe bastavam.