Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 36: XXXVI Pág. 495 / 519

- Leu isso no evangelho?

- É o que a experiência me tem mostrado.

- Ah! a experiência! Muitos obséquios deve à experiência o Sr. frei Januário!

- Porém, deveras, minha senhora, V. Ex.ª podia aconselhar seriamente ao Sr. D. Luís o casamento do Sr. Jorge, do morgado, morgado não, que até já com isso acabaram para acabarem com todas as famílias ilustres, mas enfim, do representante, o filho mais velho de S. Ex.a... O casamento dele com quem? Com a filha do Tomé da Póvoa! Um homem, senhores, que eu conheci criado desta casa! V. Ex.ª não falava a sério há pouco. É impossível.

- Olhe que falava, Sr. frei Januário, falava, falava.

- Ó minha senhora, por quem é! Lembre-se V. Ex.ª da família a que pertence, do nome que tem, e verá que se há-de envergonhar da lembrança. Berta da Póvoa! Berta da Póvoa! a filha do Tomé! Era o que me faltava ver neste mundo! Berta, que o pai enfeitou com vestidos de senhora, mas que afinal sempre há-de mostrar a origem donde saiu! Eu sempre ouvi dizer que o que o berço dá a tumba leva, e que o pé de tamanca foge sempre para a tamanca. Havia de ter graça ouvir o Sr. D. Luís chamar filha à rapariga! e ela feita senhora na Casa Mourisca! Ora essa! Em tal não podia consentir o Sr. D. Luís ainda mesmo que quisesse. Bem vê V. Ex.ª que uma pessoa da nobreza do Sr. D. Luís não tem só a consultar a sua vontade. Lá está a mais família. Que diriam os Srs. Melos da Ribeira-Formosa? os Srs. Cunhas do Choupelo? os Srs. Sottomaiores da Fonte das Urzes, os Srs. do Cruzeiro, e toda a nobreza por essa província adiante? Com que olhos veriam esse casamento monstruoso as damas de todas essas famílias, e em uma palavra a fidalguia do reino? V. Ex.ª decerto não pensou nisto. Demais...

O padre não pôde prosseguir na sua animada refutação.





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