Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 7: VII Pág. 83 / 519

futura realização não planeavam eles, inspirados das maravilhas obtidas pela agricultura nos países mais adiantados, onde é exercida por homens inteligentes e instruídos!

Passado pouco tempo, Jorge gozava já na aldeia de uma fama de fino administrador, que lhe granjeou os respeitos de todos os habitantes.

Para esta fama concorreu uma circunstância preparada ainda pelos ressentimentos de frei Januário.

Depois de destituído, e ainda para mais derrotado pelo estreito inquérito de Jorge, e antes que conseguisse dominar completamente o seu despeito, tentara o padre levantar ao rapaz uma nova dificuldade.

Com esse intento, convocou um dia todos os criados da casa e da lavoura, que viviam das soldadas do fidalgo, ou, melhor, na esperança delas, e depois de os ter juntos, deu-lhes velhacamente a notícia de que, tendo sido dispensado pelo Sr. D. Luís de continuar a gerir os negócios da casa, não era daí por diante responsável pelo pagamento das soldadas atrasadas nem das futuras; que esses negócios estavam agora a cargo do Sr. D. Jorge e que se entendessem com ele, porquanto da sua parte lavava as mãos de tudo.

A estas palavras, levantou-se murmuração entre alguns criados que não tinham grande confiança no novo gerente e que reclamavam do padre o pagamento das soldadas vencidas, dizendo que era ele o responsável por esses pagamentos, visto serem do tempo da sua administração.

- Não quero saber de contos - insistia o padre. - Por feliz me dou eu em terem tirado dos ombros esta canseira. Os outros que se avenham como puderem.

A celeuma continuava, apesar da contrariedade do hortelão, que declarou que pela sua parte estava satisfeito com a mudança, porque o Sr. Jorge era um rapaz de juízo e de brios, e, melhor do que ninguém, homem para cumprir a sua palavra.





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