Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 8: VIII Pág. 100 / 519

Já em criança era o mesmo. Sempre tão sério!

- Agora ainda mais. Ele hoje não pensa senão nos negócios da casa, que tomou a seu cuidado e que levará a bom fim. Creio-o. Vem quase todas as noites a nossa casa; vem de noite por causa do pai, porque o velho não tem cura a querer-me mal.

- Sim?! Mas que pena!

- Deixá-lo lá, que eu em vingança hei-de fazer-lhe o bem que puder.

Poucos momentos depois chegavam a casa o pai e a filha; esta foi recebida nos braços da boa Luísa, que a devorou com beijos e a banhou de lágrimas generosas; os irmãos pequenos olhavam espantados para Berta, que não conheciam e cujas maneiras de senhora estranhavam. Os criados felicitavam-na, tirando o chapéu, e murmuravam frases incompletas.

Berta, no meio daquela efusão, daquele cordial acolhimento, daquele renascer dos dias passados e despertar memórias queridas, sentia-se feliz.

Debalde Tomé, um dos mais folgados corações ali presentes, bradava que era tempo de pôr termo à festa, que cada um tinha a sua vida a tratar e que Berta precisava de descanso; os abraços sucediam-se, os beijos estalavam, as perguntas cruzavam-se e interrompiam-se as respostas em meio.

Prolongou-se por muito tempo aquele grato alvoroço que produz a chegada duma pessoa querida. A ordem, a etiqueta, os costumes, tudo esquece; a manifestação é ruidosa, irresistível, desordenada, anárquica. Somente quando principia a acalmar-se este agradável delírio de alma, é que se repara nas irregularidades da cena, e que se remedeiam.

Sucedeu desta vez que só passada meia hora Luísa notou que tinham estado tanto tempo no quinteiro, quando os esperava a sala que ela de propósito e tão antecipadamente preparara para a recepção.

A família recolheu-se então, principiou mais regular e ordenada conversa entre mãe e filha, e prolongou-se até tarde.





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