Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 14: XIV Pág. 166 / 519

Aspiraria assim nesses instantes todo o suave e delicado perfume do amor. Que o mundo, ao ver-me frio e concentrado, pensasse: «Aí está um homem de gelo, este não sabe amar», e que ela só pudesse dizer: «Oh! eu é que sei de que extremos é capaz aquele amor de que ninguém suspeita».

Maurício estava maravilhado de ouvir Jorge, que parecia dominado por uma excitação nervosa, ao falar assim, mais para si do que para o irmão.

Tais expansões eram raras em Jorge e esta era a mais veemente e completa que o irmão presenciava.

- É singular! - notou Maurício. - Nesta vida tropeça-se a cada passo em uma maravilha. Quem te ouvisse agora não acreditaria que és aquele rapaz sério para quem as raparigas nem se atrevem a lançar um olhar furtivo, porque nunca uma frase de galanteio ou um sorriso as animou a tanto. Estou admirado. E quase me convenço de que afinal sou apenas um simples curioso na arte de amar, cuja metafísica transcendente tu professas como um verdadeiro mestre. A minha sensibilidade é menos exigente, mas por essa mesma razão admiro a suprema delicadeza da tua!

Jorge como que voltou a si e estranhou a exaltação de que se deixara possuir. Rindo e falando já em tom natural, tentou atenuar a impressão produzida, e disse para o irmão:

- A Lua tem decididamente uma influência poderosa até nos ânimos mais fleumáticos. Aí está que querendo eu falar-te de coisas sérias, esqueci-me em uma divagação sentimental, que Deus sabe até onde me levaria. Deixemos isto. Vais prometer-me, Maurício, que desistirás de inquietar Berta e tranquilizarás o espírito a Tomé?

- Ora que ridícula promessa exiges tu de mim! Deixa-me ver de quando em quando aquela rapariga, que eu te afianço que não corre perigo algum com isso. Quanto mais que eu não posso assegurar que ela de facto me corresponda.





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