Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 15: XV Pág. 169 / 519

Gabriela, a baronesinha viúva de Souto-Real, ainda não tinha trinta anos, e mais nova parecia do que era. Alva, loira e delicadamente formosa, realizava o tipo da mulher elegante, criada na atmosfera dos bailes e dos teatros, e mais à luz artificial que à luz do Sol. Apaixonada por perfumes e rendas, observadora fiel da moda, sujeitava-se aos mais extravagantes caprichos dela, sabendo-os porém corrigir pela influência do seu gosto apuradíssimo. Tinha a languidez e a particular cor pálida das formosas de Lisboa, que não recebem do sol da província a vigorosa encarnação de saúde. Índole verdadeiramente feminina, exercia mais império sobre as suas paixões do que sobre os seus caprichos. Com dificuldade sacrificaria o mais ligeiro destes; aquelas, porém, subjugava-as com fortaleza varonil. Possuía um génio alegre e às vezes um tanto satírico, mas sem malignidade. Não professava os princípios daquela moral intratável que se arma da severidade puritana contra as paixões e defeitos dos outros; pelo contrário era tolerante e latitudinária, não se esquivando a apertar a mão aos maiores pecadores com quem se encontrava no mundo, sem que, sob essas aparências de leviana indiferença, deixasse de manter um discernimento seguro do bem e do mal, e um grande fundo de moralidade e de justiça.

Além disto possuía um bom coração e uma alma generosa.

No trato da mais ilustrada sociedade lisbonense e nas viagens em que acompanhara o barão, seu falecido marido, adquirira uma variada cópia de conhecimentos, de que o seu natural bom senso sabia usar, sem abuso. Passava por uma das mais espirituosas damas de Lisboa, sem que se lhe notasse a ostentação pedantesca que é o escolho em que tanta vez naufragam as que a tal nome aspiram. As primeiras capacidades artísticas, literárias e políticas frequentavam as salas da baronesa e apreciavam a sua conversação.





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