Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 17: XVII Pág. 231 / 519

A esta espionagem não me sujeito eu. Meus senhores, as minhas obrigações de dono de casa terminaram. Hóspede como os outros, tomo a liberdade de seguir o caminho que a dignidade me impõe. Cada um consulte o mesmo conselheiro. E D. Luís, curvando-se diante de todos, que o escutaram espantados, saiu da sala sem dar tempo a que o interrogassem ou detivessem.

Frei Januário foi o primeiro que pressurosamente o seguiu.

O resto da companhia parecia imobilizado nos seus lugares.

Jorge, com os cotovelos apoiados na borda da mesa, conservava o rosto escondido entre as mãos.

Gabriela foi quem se subtraiu primeiro àquela influência paralisadora.

- Parece-me que, depois do que se passou, dá-se a triste necessidade de nos separarmos. O tio Luís está muito agitado, é preciso dar-lhe tempo para serenar e ver as coisas sob um aspecto mais racional do que aquele em que a paixão lhas apresenta agora. Por isso…

A reticência foi seguida por um arrastar de cadeiras, prova de todos haverem compreendido a conveniência da retirada.

Formaram-se ainda na sala alguns grupos, conversando sobre o facto.

Os primos do Cruzeiro foram os primeiros a retirar-se. O padre ainda manifestou desejos de pedir a Jorge uma satisfação pelos insultos que ele lhe dirigira, mas intervieram terceiros que o dissuadiram.

Os fidalgos velhos tentaram procurar D. Luís para o acalmarem; mas foi-lhes dito por frei Januário que o fidalgo não podia recebê-los.

Pouco e pouco foram os convidados abandonando a Casa Mourisca, e os caminhos que dela partiram eram momentos depois cobertos de cavalgadas, liteiras e carroções, em que aquelas nobres famílias regressavam aos seus solares.

As ocorrências singulares do jantar foram entre elas assunto de conversa em toda a jornada.





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