Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 27: XXVII Pág. 374 / 519

XXVII

Entrando na Herdade para cumprir a promessa feita a Clemente, Jorge encontrou o fazendeiro, que havia pouco voltava de visitar os campos, sentado à modesta banca do seu escritório, examinando com atenção os livros de assento e algumas cartas que recebera.

Usando da familiaridade com que era recebido naquela casa, Jorge entrara sem se mandar anunciar.

- Olá! viva o Sr. Jorge - exclamou o lavrador, voltando-se ao rumor de passos que ouvira - venha cá, venha, que temos novidade.

- Então que há? - perguntou Jorge, sentando-se defronte dele.

- Vamos a saber. Teve cartas do Porto?

- Não.

- Hum! É o que eu digo. Se está à espera de que os advogados lhe escrevam, bem tem que esperar. Aqueles senhores, saindo do escritório, não pensam mais nas demandas nem nos clientes. Olha quem. Eu cá entendo-me com os procuradores e não me dou pior. Ora leia.

E passou para as mãos de Jorge uma carta, na qual de facto o procurador lhe dava lisonjeiras informações relativamente ao pleito que a Casa Mourisca sustentava. A questão tomara uma face nova, depois da junção ao processo de certos documentos de importância, e o parecer dos juízes era favorável, segundo o que podia conjecturar o procurador, forte nestes prognósticos.

A notícia não podia ser indiferente a Jorge. A boa solução desta demanda facilitaria consideravelmente os seus projectos económicos; e poderia depois tentar mais desembaraçado e com mais eficácia os expedientes que a sua meditação e a experiência de Tomé lhe sugeriam.

- Então que diz a isso? - interrogou o fazendeiro.

- É deveras uma feliz nova.

- Diga-me agora se há-de ou não vir tempo em que aquela casa negra tornará a ser o que foi.

- Espero que Deus me conceda essa ventura.

- Agora é necessário escrever para Lisboa para apressar o negócio, e com relação àqueles títulos, que parece não estarem muito na ordem, recomendo-lhe este procurador, que é homem diligente e seguro.





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