Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 28: XXVIII Pág. 393 / 519

atento e comovido os episódios de certos livros, mansamente revolucionários, e abria desprevenido o coração a doutrinas subversivas dos seus velhos preconceitos, tão ocultas elas se lhe insinuavam entre os artifícios da concepção e da linguagem!

A baronesa tinha muita fé nesta vacina literária.

O resultado porém de tudo isto foi que, assim que ela tentou partir para Lisboa, encontrou no tio uma relutância com que não havia contado.

O pobre velho, fraco, triste e doente, havia-se costumado à companhia daquela mulher cheia de vida, de inteligência e de alegria, e queria-lhe com o apego que nessas idades a alma contrai a todas as imagens que lhe recordam o tempo em que se conheceu jovem e vigorosa.

D. Luís experimentava quase um secreto terror ao lembrar-se de que a baronesa o havia de deixar. Quem viria sentar-se ao lado do seu melancólico leito, assim que ela partisse? Os filhos afastara-os para longe de si, em castigo dos delitos com que tanto o haviam ofendido. Frei Januário era-lhe insuportável.

Mas ficar só, viver só, ali naquela casa que nem era sua, só nas suas longas e melancólicas vigílias, com as escuras memórias do seu passado, com as sombrias apreensões pelo futuro... esta ideia aterrava-o. Quando Gabriela aludia à sua próxima partida, ele desviava o sentido da conversa e claramente lhe pedia que não falasse nisso.

A baronesa via-se pois obrigada a transferir indefinidamente o seu projecto de deixar a aldeia.

Contudo cada dia que se demorava nos Bacelos contava-o ela como uma probabilidade menos a favor dos seus planos!

Esta difícil situação em que se viu, obrigou-a a pensar seriamente no partido que devia adoptar.

Era preciso descobrir um meio de abandonar a aldeia e voltar a Lisboa, sem causar a D.





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