Era preciso partir para Lisboa e obrigar Maurício a segui-la.
A demora deste projecto poderia malográ-lo. Resolveu portanto apressar a sua partida.
Uma circunstância, porém, a tornara difícil.
Os sucessivos desgostos que tinham ferido o coração de D. Luís, a resignação que ele fizera dos seus antigos hábitos, a homiziação a que condenou sucessivamente ambos os filhos, as saudades avivadas de Beatriz, o desconforto do seu viver actual, sem esperanças de melhor futuro, e porventura com remorsos do passado, todas estas influências acabaram por prostrar de desalento o velho fidalgo e por acabrunhá-lo e envelhecê-lo em poucos dias, como se estes se contassem por anos.
Nada o distraía. As gazetas, em cuja leitura alimentava outrora a chama legitimista, que lhe atravessava o coração, enfastiavam-no, e tinham sido intencionalmente desviadas pela baronesa; a companhia e a conversação de frei Januário não as podia já aturar sem impaciência; perdeu o gosto para tudo, e principiou a adquirir hábitos progressivamente sedentários.
Interrompeu os seus passeios, deixou de aparecer à mesa, jantava e almoçava no quarto, e acabou por passar quase todo o dia na cama, debilitando-se nesta inacção a olhos vistos.
Gabriela via com cuidado os sintomas deste crescente abatimento físico e moral, e procurava combatê-lo por todos os meios.
Ia para o quarto do tio, e, variando a conversa e temperando-a com todas as graças que o espírito e o estudo lhe sugeriam, conseguia distraí-lo e chegava até a fazê-lo sorrir.
Outras vezes entretinha-o lendo-lhe em voz alta, e escolhia livros que no dizer dela, pudessem adoçar as cruezas do génio do fidalgo e amaciar-lhe as asperezas das suas escamas aristocráticas. Quantas ocasiões D. Luís escutava