Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 28: XXVIII Pág. 399 / 519

- Confesso que sim.

- Concebe-se. Pois é pena, porque me agrada o projecto, e assim tem de ficar só o tio Luís.

Mas não parta.

- Alto lá. Por muito estranhos que me pareçam os teus planos, viste que não lhes opus obstáculos. Reclamo a mesma condescendência para com os meus.

- Porém meu pai?..

- Não sei o que lhe faça, primo. Pensa nisso a ver se até à hora da partida me lembras alguma solução. Eu não acho. A baronesa retirou-se poucos momentos depois, aparentemente dissuadida da sua primeira ideia.

Chegando porém ao seu quarto, sentou-se à secretária e, preparando uma folha de papel, escreveu com a sua miúda caligrafia o seguinte:

«Meu caro Sr. Tomé da Póvoa.

Sou obrigada a partir hoje para Lisboa. Deixo meu tio muito doente e muito sentido pela minha falta. Na idade em que ele está e nas suas tristes disposições de espírito dá-se muito apreço aos cuidados de uma mulher. A minha ausência deixa-o tão só e tão sem conforto, que receio dos efeitos dela. Sei quais os ardentes desejos de vingança que o Sr. Tomé tem contra meu tio e a índole dos actos com que os satisfaz, e por isso julguei dever dar-lhe estas informações, para que se vingue a seu modo.

Sua muito respeitadora

Gabriela.»

E, depois de ler o que escrevera, principiou a dobrar cuidadosamente a carta, murmurando:

- A bom entendedor meia palavra basta.

E ao lacrar e ao escrever o sobrescrito dizia sorrindo:

- O primo Jorge que tenha paciência e tome contra si próprio as precauções que quiser.

Depois tocou a campainha e mandou expedir quanto antes a carta a Tomé da Póvoa. E na sequência dos seus pensamentos murmurava:

- E se o acaso lhe der para fazer das suas, lá se avenham. Eu lavo daí as mãos.

E foi proceder aos preparativos da sua jornada nas mais joviais disposições de espírito.





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