- A poesia dos meus sentimentos está muito atrasada, ao que vejo. Dantes os amantes sinceros e generosos punham acima de tudo os direitos dos seus puros afectos. Eu sou dos que lêem por a cartilha desses tempos.
- Os afectos generosos estendem a sua generosidade aos sentimentos dos outros corações, ainda quando lhes são opostos. Respeitam-nos.
- É muito sublime; não entendo bem. Vamos a saber, primo Jorge, dar-se-á que ainda haja por aí uns fumozinhos de vaidade aristocrática?
- Em mim não a conheço; mas respeito-a naquele velho, em quem descarregaria o último golpe se a não respeitasse.
- É esse o obstáculo? Não vejo aí senão a necessidade de uma temporização.
- Não diga isso, prima. As contemplações que tenho com meu pai tê-las-ei com a sua memória.
- Mas não é muito cristão supor que o sacrifício feito à vaidade do vivo pode ser agradável à alma, que deixou no sepulcro todos os prejuízos do barro em que se envolvia. Os preconceitos aristocráticos não sobem ao Céu; quero crê-lo; ficam nos sarcófagos da família, de mistura com as cinzas mortuárias.
- Embora; mas seriam criminosos todos os projectos de felicidade que se baseassem em um facto tão funesto como esse a que alude. Em tais fundamentos não serei eu quem os edifique.
- Mas, se bem me recordo, o primo Jorge disse-me há dias que não se julgava com direito de sacrificar outra felicidade que não fosse a sua.
- É verdade. Mas não sou eu só que tenho coragem.
- Ah! Ela também?! Visto isso concertaram ambos esse plano? É generoso, não há dúvida. Eu cada vez adoro mais a província, onde se dão umas raras plantas, em cuja existência quase não acreditava. Agora já compreendo a oposição que encontra em ti o meu projecto. Depois da vossa heróica resolução, é claro que devia contrariar-te a presença de Berta nesta casa.