Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 31: XXXI Pág. 438 / 519

Mas vai não quero sacrificar o teu futuro. A companhia de um velho cansa. Os corações na tua idade precisam de ar e de alegria. Eu bem conheço isso; mas não me digas que é somente a consciência da missão que te compete na vida a que te impele; essa bem a desempenharias tu aqui; e generosa e abençoada como nenhuma, porque nenhum coração receberá de ti consolação igual àquela que me dás; podes crê-lo, porque também poucos há mais apertados de angústias e que há tanto tempo abafassem como este meu. Mas queres deixar-me... Vai... vai, que eu não devo, nem quero impedir-te.

Havia tão sensível comoção na voz com que D. Luís pronunciara estas palavras, que Berta sentiu o contágio dela e, pegando nas mãos do padrinho para as levar aos lábios, disse sensibilizada:

- Ó meu padrinho, se é verdade o que diz, se a minha companhia lhe faz tão bem, ordene-me que fique, e ninguém me tirará de junto de si, e nenhuma sorte me será mais querida do que esta. Concorrendo para aliviar-lhe os seus sofrimentos, parece-me que estou cumprindo um encargo que Beatriz me deixou, e que ela do Céu me sorri e agradece. Quer que não saia de ao pé de si? quer que lhe consagre todos os meus cuidados? fá-lo-ei e fá-lo-ei com prazer.

O velho cingiu a formosa cabeça daquela rapariga, que se ajoelhava aos pés, e aproximando-lhe dos lábios a fronte e as faces beijou-as a chorar.

- Obrigado, Berta, obrigado por essas palavras que me entram pelo coração com um bálsamo salutar. A minha vida não pode ser muito longa, filha, o teu sacrifício não duraria muito tempo... mas nem eu quero que faças promessas de cumpri-lo. Só te peço que me dês algum tempo para responder à tua petição, e que até lá me não fales mais nesse casamento. Eu pensarei e talvez... talvez me con-forme com essa ideia, contra a qual ainda me revolto.





Os capítulos deste livro