Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 31: XXXI Pág. 437 / 519

Berta, tornou:

- Muito bem, dizes que não amas esse homem, que não cedes a inclinação alguma do coração, aceitando-o por marido; que se o fazes é por julgares que é essa a tua missão de mulher, a de suavizar a vida de um homem, e de tornar-lhe mais fácil o seu caminho no mundo. E para cumprires essa missão vais deixar-me só, velho, doente, abandonado dos filhos, sem conforto algum na vida; só, com as lembranças pungentes do meu passado, e isso depois de me habituares à tua companhia, depois de me haveres recordado as doçuras deste viver ao lado de uma filha, doçuras que o amargor das saudades me tirava dos lábios havia muito tempo. Para que vieste então? Quem te chamou? Se eu tivesse ficado só, estaria morto talvez e seria feliz. Vieste para me obrigares a sentir agora esta separação; para me fazeres morrer de paixão no dia em que celebrares esse casamento. Que queres? Estava habituado a considerar-te quase como uma segunda Beatriz que Deus me concedera, e podes julgar se eu daria a Clemente uma filha minha.

- Meu padrinho! - exclamou Berta, inquietando-se com a exaltação do fidalgo.

D. Luís prosseguiu sem a escutar:

- Mas que te importa comigo? Eu estou velho; as cabeças na minha idade vergam muito para a terra, pesam demasiado, não se pode exigir de umas mãos jovens a tarefa de as sustentarem. Ainda se fossem as de uma filha! Mas para que vieste? Julgas que me deixas forte? Estás enganada. Esta vida em mim é fictícia. É da tua presença que a recebo. Amanhã que me deixes ver-me-ás mais prostrado do que me encontraste. Enquanto viveu a minha Beatriz, ninguém me viu fraquear. Dois meses consecutivos, dois meses, passei junto do leito onde ela agonizava, quase sem dormir, quase sem comer, e nunca me faltaram as forças, e desde o momento em que ma tiraram dos braços para ma encerrarem no túmulo, abandonou-me toda a minha energia, e caí no leito quase exausto de vida.





Os capítulos deste livro