Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 32: XXXII Pág. 441 / 519

.. É verdade que pelos modos Maurício lhe arrastou a asa, como faz a todas, mas ela não lhe deu confiança; enquanto a Jorge... Jorge... Jorge...

De repente o filho da Ana do Vedor sentou-se de um salto na cama e murmurou já audivelmente:

- Jorge! Querem ver que...

E, sem bem saber o que fazia, acendeu a luz. Este movimento de instinto, pelo qual parece que queremos desfazer com a luz de fora as meias sombras que dentro de nós escurecem ainda uma ideia, é frequente nestas circunstâncias. Clemente permaneceu sentado no leito com a vista fixa e o queixo apoiado na mão.

E continuava murmurando:

- E porque não? E a mim que não me tinha ocorrido! É até o mais provável. E assim explica-se tudo... A maneira por que ele falou a primeira vez e ontem... Aquilo de sair da casa dos Bacelos, quando ela foi para lá... E a tristeza em que anda... Mas então... E porque é impossível? Ai, sim, o velho. Isso lá é verdade, quem falasse ao velho em tal, o que aí não iria!... Porém... morrendo o pai... já não havia tropeço... E aí ficava eu... É o que eu digo... É verdade que o rapaz tem lá uns modos de pensar!

Aqui bateu Clemente uma palmada no travesseiro, exclamando quase:

- E não é outra coisa! Agora é que eu explico tudo o que ele me disse... e ela também. É certo. Coitados! Se assim for... Mas é com certeza. Vou jurá-lo. Pois se não fosse... Ora se não é, é sem a menor dúvida. Eles gostam um do outro. Berta gosta de Jorge e o rapaz também gosta dela.

E, formulando esta conclusão, Clemente, com abstracção igual à do filósofo que, excitado pela alegria de uma descoberta, saiu como estava do banho a proclamá-la por toda a cidade, saltou da cama e começou a vestir-se com presteza sem reflectir no que fazia.

Já meio vestido foi que reparou que eram duas horas da noite e que portanto era aquele acto extemporâneo.





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