Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 35: XXXV Pág. 482 / 519

- Quer dar-me a sua bênção de despedida, meu padrinho? - perguntou Berta a meia voz, como receosa de uma recusa.

D. Luís, sem voltar o rosto, estendeu-lhe silenciosamente a mão.

Berta apoderou-se dela e beijou-a, banhando-a de lágrimas de saudade.

D. Luís estremeceu ao sentir aqueles beijos e aquelas lágrimas, mas fez por se reprimir na presença de Tomé.

Enfim, Berta separou-se dele, e encaminhou-se para a porta, onde o pai a esperava.

Poucos passos andados ouviu que a chamava uma voz sufocada.

Voltou-se. D. Luís seguia-a com a vista nublada de pranto e estendia-lhe os braços para um último adeus.

Ela correu para o velho e abraçaram-se soluçando.

Tomé, sensibilizado, escondeu-se discretamente nas dobras do reposteiro.

Por algum tempo durou ainda aquela tocante cena de despedida, que despedaçou o coração do velho fidalgo.

Afinal, afastando brandamente de si a rapariga e beijando-lhe a fronte, enternecido, murmurou:

- Vai, minha filha; é melhor que vás. O teu sacrifício é grande, mas crê que não é maior do que o meu. Diz a teu pai...

Mas, percebendo Tomé meio escondido na porta, dirigiu-se a ele:

- Tomé, há pouco fui injusto consigo. Desculpe-me; a velhice e a doença fizeram-me assim. Creio na sua boa-fé e espero que todos nós saberemos proceder como o dever nos manda. Adeus, entrego-lhe a sua filha. Tem razão em a querer junto de si.

E pela segunda vez na sua vida o fidalgo da Casa Mourisca estendeu a mão ao seu antigo criado.

Tomé aceitou-lha com a efusão com que sempre acolhia a mão que lealmente se estendia para a sua.

- Fidalgo, se V. Ex.ª... Mas não; é melhor que Berta venha comigo. É melhor para sossego de todos. Custa ao princípio, mas...

- Sim; é melhor, é, Berta que vá - assentiu D.





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