Luís.
E depois de uma última despedida, tão terna como a primeira o pobre doente viu desaparecer, para não voltar, a doce figura da sua carinhosa enfermeira.
Assim que deixou de ouvir-lhe os passos no corredor, o desalentado velho escondeu a cabeça entre as mãos já trémulas, e com a voz cortada pelos soluços exclamou com desespero:
- Agora morre! morre! morre para aí só, velho desgraçado, sem filhos, sem família, sem amigos; morre só com os teus rancores, com as tuas paixões, com o teu orgulho, já que assim o queres. Quando acabará de se despedaçar este coração, para me deixar descansar?
Frei Januário veio surpreendê-lo neste apaixonado monólogo e recuou assustado ante a veemência daquela dor.
D. Luís nem deu pela chegada do padre. Caindo em um profundo abatimento, assim permaneceu, sem que as perguntas e súplicas do padre conseguissem arrancar-lhe uma palavra dos lábios contraídos.
Somente ao fim da tarde D. Luís disse que queria deitar-se; ajudaram-no a despir-se e a metê-lo na cama, onde ele ficou como caído em uma sonolência mórbida.
O padre, receoso do resultado daquela súbita depressão de forças, pensou em avisar Jorge.
O bom do padre, apesar dos seus defeitos, não era um coração insensível, e por D. Luís tinha uma afeição sincera. Aquela noite, reagindo contra o seu amor pelas comodidades, velou, ou melhor, permaneceu à cabeceira do doente. Teve porém o desgosto de perceber que este não sentia grande refrigério em vê-lo ali, porque sempre que no intervalo dos seus sonos agitados dava com os olhos nele desviava-os logo com despeito.
Não obstante, o padre conservou-se fiel ao seu posto.