Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 6: VI Pág. 69 / 519

Esta era a parte secreta do seu plano; aquela cuja menção bastaria para desvanecer toda a boa impressão produzida no ânimo de D. Luís.

O capital inicial devia vir do empréstimo razoável oferecido por Tomé da Póvoa, ou obtido sob a garantia do crédito dele. Esta operação era indispensável, era a única talvez salvadora; porquanto os outros capitalistas tinham sempre em vista apoderar-se dos bens do fidalgo, e por isso somente emprestavam sob condições onerosíssimas e perigosas.

Mas o orgulho de D. Luís não lhe deixaria aceitar favores de Tomé; nunca ele consentiria na menor transacção com o que fora seu criado.

Por isso Jorge guardou para si somente esta parte das suas projectadas operações, e com D. Luís felizmente era fácil passar por alto certos pontos de questões desta natureza, que ele mal examinava. Assim, pois, o pai acabou por dar o consentimento pedido.

- Seja; não me oponho a que te ocupes da gerência da casa, que dentro em pouco tempo será vossa. Vejo que tens reflectido nisso mais do que eu julgava; contudo marco duas condições: a primeira é que nunca faças contratos que sejam vergonhosos para o nome da nossa família.

- Prometo-lhe que não o envergonharei.

- A segunda é que não desprezes os conselhos de frei Januário.

- Por certo que não prescindirei das suas informações.

- Eu lhe darei parte do que resolvi. E agora... - acrescentou D. Luís - vamos ao resto... e Maurício?

Maurício, interpelado pela segunda vez, achar-se-ia nas mesmas dificuldades para responder à interpelação se Jorge não respondesse por ele:

- Também pensei em Maurício.

- Ah! também? - disse o pai, não podendo ocultar a quase admiração que lhe estava impondo Jorge.

Maurício interrogou também com a vista o irmão.

- Se Maurício confia em mim, é inútil a sua permanência aqui na aldeia onde não tem em que se ocupe.





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