Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 6: VI Pág. 68 / 519

Como queres tu pois, há poucos dias uma criança que em nada disto pensavas, tomar de repente sobre ti o encargo desta gerência, e como imaginas que darias boa conta dela? Os teus planos são vagos. Falas-me mais nos defeitos dos seguidos até hoje do que nas excelências dos teus.

- Perdão, meu pai, mas não são tão vagos como os supõe. Pensei já muito nisso. As dificuldades que ainda tenho, com tempo e meditação, espero resolvê-las; além disso... auxiliado... quando necessário for... dos conselhos de frei Januário, espero que me será possível realizar o meu intento. Se me permite, exponho-lhe esses planos em poucas palavras.

Tomando o silêncio do pai por sinal de aquiescência, Jorge encetou a exposição dos seus projectos económicos.

Não o seguiremos no longo relatório, que pai e irmão escutaram admirados de tão inesperada ciência. De facto, as informações de Tomé, os frutos da própria reflexão, as ideias adquiridas na leitura meditada dos poucos livros da sua biblioteca foram os elementos com que o espírito essencialmente metódico e organizador de Jorge construíra um completo sistema de administração, que, se tinha defeitos, não eram para ser apreciados pelo velho fidalgo, que nunca fora dado a esses exames. A exposição clara, o tom de convicção, o calor do quase entusiasmo com que o filho falava, entusiasmo contagioso, exerceram no velho uma profunda influência. Ao concluir, Jorge tinha vencido a causa.

D. Luís estava no fundo de alma convicto de que este filho fora destinado pela Providência para ser o restaurador da sua casa.

E contudo havia um ponto essencial no plano de Jorge que ele não mencionara. Para realizar a maior parte das medidas económicas cujos maravilhosos efeitos com tanta eloquência expusera, era indispensável um capital inicial não pouco avultado, e Jorge não dissera como havia de obtê-lo.





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